Há 11 anos, Russell Ledet, de 34 anos, era segurança no hospital Baton Rouge General Medical Center, a estudar química em flashcards durante o seu turno.
Atualmente, o ex-oficial não comissionado da Marinha tem um mestrado e está a trabalhar para obter um doutoramento conjunto na Tulane University no seu estado natal, Louisiana.
“É um sonho tornado realidade”, disse ele. A sua história de sucesso de chegou às manchetes, cerca de 1 ano depois de ter ganho atenção nacional por organizar uma fotografia de 15 estudantes negros de medicina em frente à antiga senzala de Whitney Plantation, um museu da escravidão no Louisiana.
A fotografia tornou-se viral e, desde então, Russell é cofundador de uma empresa chamada The 15 White Coats, cuja missão é arrecadar dinheiro para estudantes de medicina pertencentes a minorias. Esta empresa enviou cópias em tamanho de poster da fotografia para escolas pelos EUA, para inspirar a próxima geração de médicos negros.
“Quando você perguntar a uma criança negra como é um médico, eles vão automaticamente pensar num homem branco. Para mudar isso, têm que ver imagens que se alinham com a realidade”, explicou Russell.
Tendo crescido em Lake Charles, no Louisiana, com uma mãe solteira, Russell nunca pensou que iria para a universidade, muito menos que viria a ter um doutoramento em oncologia molecular.
Quando era criança, costumava vasculhar caixotes do lixo com a irmã para encontrar restos de comida. “Eu pensava, ao crescer, que apenas pessoas ricas iam para a universidade, principalmente de medicina”, conta.
Ele decidiu matricular-se na Marinha após o ensino secundário, e foi no serviço militar que começou a conhecer pessoas que lhe mostraram que o sucesso era possível – primeiro em Washington DC e depois em Pensacola, na Flórida, onde estudou para ser técnico militar em criptologia.
“Comecei a perceber que o mundo era mais do que de onde eu vim”, disse. Em Pensacola, conheceu a sua esposa, que ele diz ter sido fundamental para o incentivar a estudar.
“A minha esposa dizia sempre que eu era muito inteligente e que apenas ainda não o sabia”, explicou Russell.
Depois de várias viagens ao exterior, ele deixou a Marinha para que ele e a sua esposa pudessem estabelecer-se e constituir família. Mudaram-se para Baton Rouge, no Louisiana, em 2009, onde ele se matriculou para estudar na Southern University e no A&M College, uma faculdade historicamente negra.
Embora tivesse bolsa integral, ainda tinha que trabalhar a tempo inteiro para sobreviver, então começou conseguiu um emprego como segurança no Baton Rouge General Medical Center. Ele assistia às aulas durante o dia, trabalhava até à meia-noite e usava qualquer tempo livre para fazer os trabalhos de casa.
Aos sábados, após terminar o turno, ele conduzia a noite inteira até Pensacola, onde trabalhava como reservista.
No meio de tudo isso, a sua primeira filha nasceu, o que colocou uma pressão extra sobre ele para terminar o curso e conseguir um emprego com melhor remuneração.
Então, Russell finalizou o curso de oncologia molecular na New York University. “Eu tinha realizado tudo isso e percebi que consigo fazer qualquer coisa”, disse.
A sua segunda filha nasceu em 2018, no mesmo dia em que recebeu a notícia de que tinha sido aceite na Escola de Medicina da Universidade de Tulane com bolsa integral.
Desde que regressou ao hospital Baton Rouge General Medical Center em julho, como estudante de medicina, reconectou com o seu antigo chefe, que o ajudou ao não demiti-lo depois de o apanhar a estudar química orgânica durante o seu turno.
Russell diz que depois do curso de medicina, quer trabalhar em pediatria e psiquiatria, para que poder ajudar a aumentar o acesso a cuidados de saúde mental em comunidades pobres.
Ele espera que o seu sucesso inspire outros jovens afro-americanos. “Vindo de onde eu venho, ninguém diz que você pode fazer coisas e causar impacto. E se ninguém lhe disser, você não sabe. Mas agora que sei, posso dizê-lo às crianças e jovens”, concluiu.
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