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Maria morreu. O “casamento mais bonito do mundo” continua

Esta é a história de Avelino Cunha, um senhor de 82 anos residente em Maiorca, na Figueira da Foz, que em maio perdeu a mulher, Maria Manuela Pinto, que sofria de Alzheimer.

“São tantas as datas importantes que agora vou viver sem ela, mas enquanto puder andar, irei ao cemitério todos os dias. Alguma vez me ia conseguir deitar sem a ir ver?”, desabafa o senhor Avelino, sentado no sofá onde conversou tantas vezes com a sua Maria.

Apesar da luta contra as saudades, o amor do “casamento mais bonito do mundo” mantém-se igual a outrora.

O senhor Avelino admite pertencer a “famílias muito religiosas” e que agora todos os dias sem Maria são um desafio, enquanto dá três beijinhos na fotografia da sepultura, como nos últimos seis meses.

Há muitos anos, prometeu à mulher que, quando fossem velhinhos, ia fazer um quarto para eles no rés-do-chão da casa, para poderem estar confortáveis e quentes.

“Eu preparei tudo, mas ela só conseguiu ficar um mês e meio comigo”, lamenta o senhor Avelino.

Aos 14 anos, Avelino foi para Lisboa trabalhar como carpinteiro, e Maria visitava regularmente a cidade para acompanhar o pai nas consultas do hospital.

Embora se conhecessem desde crianças, pois são ambos naturais de Maiorca, foi nas ruas de Lisboa que a amizade deles floresceu.

Com 21 anos, Avelino tornou-se carteiro, e os dois apaixonaram-se. “Eu ficava espantado quando vivia em Lisboa e ouvia os comerciantes ambulantes com os seus pregões e a Maria adorava também”, lembra.

Mais tarde, Maria veio mesmo a tornar-se vendedora de fruta no Mercado Municipal da Figueira da Foz.

Quando Maria adoeceu, os pregões de Lisboa assumiram uma nova importância, pois Avelino cantava-lhos para a ajudar a lembrar das coisas.

“Ela lá se lembrava, mas também se fartava deles, e quando isso acontecia, eu lembrava-a que nasci no dia de anos de Bocage (15 de setembro), só que ele nasceu 200 anos antes de mim, e como tal, eu sabia inventar muitas anedotas para a fazer rir”, conta, visivelmente ainda apaixonado.

“Era uma vez uma velhinha, quase cega, coitadinha. E já mal podendo andar, encostava o seu bordão sempre a olhar para o chão. Ia na estrada a passar e ouviu um cão que ladrou. A pobrezinha parou, assustada, encostada no seu bordão, sempre a olhar para o chão, e caiu. Nisto, surge uma menina viva, formosa e ladina que disse “Eu levanto-a avozinha, e levo-a à sua casinha, onde lhe dói, o que tem? Diga que eu vou já buscar qualquer coisa para a curar, vou pedir à minha mãe.” “Não foi nada, meu amor. Tu és um anjo, uma flor, ajuda-me só a andar. Deus te pague a tua bondade, disse a velhinha a chorar”, recita o senhor Avelino, recordado uma das muitas lengalengas que contava ao seu grande amor.

“Cantei-lhe isto, dias e dias, mas ela também se fartava desta história e lá tinha eu de inventar outras”, explica o senhor Avelino, sempre dedicado a encontrar formas de a manter feliz e entretida.

Para além disso, o senhor Avelino também assava peras e maçãs, que conseguia que ela comesse dizendo-lhe que a fruta vinha do terreno da rua do Castelo onde Maria tinha vivido quando era criança. “Aí é que era vê-la comer”, diz.

O casal adorável faria 60 anos de casados no dia 12 de novembro, e este dia continua a ser de felicidade para Avelino, pois para ele o amor está intacto.

“Todos os dias visito-a e dou-lhe três beijinhos. Já tenho uma carta escrita para a minha filha e para a minha neta, para quando eu morrer, meterem no meu caixão a trança que a minha mulher usou muito tempo e depois cortou, bem como as argolas grandes que usava. É que a mim esqueceu-me de meter isso com ela, porque são dias de grande aflição, sabe? Mas levo um dia comigo para ao pé dela”, conclui o senhor Avelino.

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