Histórias

Casal inter-racial venceu o preconceito e comemora 73 anos de união: “Ainda somos apaixonados”

De vez em quando, surge uma história de amor na vida real tão poderosa e inspiradora que uma pessoa fica simplesmente maravilhada com o casal que a viveu.

No mundo atual de aplicativos de namoro e encontros de uma noite, numa época em que as gerações jovens perderam a fé na instituição do casamento – histórias como a de Mary e Jake Jacobs destacam-se como se fossem de um tempo há muito esquecido.

O casamento deste casal ganhou um lugar na história não apenas como aquele que resistiu ao teste do tempo por mais de 7 décadas. Além disso, a história de amor dos Jacobs é um testemunho de uma frase muito usada, que é quase um clichê hoje: “O amor conquista tudo”.

Nascidos na Grã-Bretanha e em Trinidad, respetivamente, Mary e Jake apaixonaram-se numa altura em que os relacionamentos inter-raciais eram ferozmente condenados. Apesar de serem um casal inter-racial na Grã-Bretanha nos anos 40 condenado ao ostracismo pelos seus entes queridos, Mary e Jake apoiaram-se em todas as adversidades que a vida lhes lançou. Afinal, a história de amor deles começou no meio da guerra – quando Jake estava a servir no Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial.

“Eu conheci o Jake quando ele veio durante a guerra de Trinidad, como parte das forças americanas estacionadas na base de Burtonwood perto da minha casa em Lancashire. Eu estava a ter aulas de datilografia e taquigrafia e ele foi enviado para lá para formação pela Força Aérea. Ele estava com um grupo de amigos negros e eles chamaram-me e a uma amiga para conversar. O Jake e eu começámos a falar e ele citou Shakespeare para mim, o que eu adorei”, lembra Mary.

“Algumas semanas depois, fomos fazer um piquenique, mas fomos vistos por uma senhora a passar de bicicleta. A visão de duas jovens inglesas com homens negros foi muito chocante – e ela denunciou-me ao meu pai, que me proibiu de vê-lo novamente”, acrescentou.

Assim que a guerra acabou, Jake teve de deixar Mary para trás e voltar para Trinidad. Os dois enviaram cartas de amor um ao outro durante o seu tempo separados e logo Jake percebeu que não poderia mais ficar longe da sua amada. Então, voltou ao Reino Unido em poucos anos e imediatamente pediu a Mary que casasse com ele.

“Ele pediu-me em casamento, do nada, quando eu tinha apenas 19 anos. Quando eu disse ao meu pai que ia casar com o Jake, ele disse: “Se casares com aquele homem, nunca mais entras nesta casa”. Ele ficou horrorizado que eu pudesse pensar em casar com um homem negro. Expulsou-me e eu saí de casa com apenas uma pequena mala. Nenhuma família veio ao nosso casamento no cartório em 1948. Os primeiros anos do nosso casamento a morar em Birmingham foram um inferno – eu chorava todos os dias e mal comia. Ninguém falava connosco, não conseguíamos encontrar um lugar para morar porque ninguém alugava para um homem negro, e estávamos sem dinheiro. As pessoas apontavam para nós na rua. Mais, dei à luz um filho natimorto aos 8 meses. Não estava relacionado com o stress que eu estava a passar, mas partiu o meu coração e nunca mais tivemos filhos”, revelou Mary.

“Mas aos poucos, a vida tornou-se mais fácil. Consegui emprego como professora e acabei como vice-diretora. Primeiro, o Jake trabalhou numa fábrica, depois passou para os Correios”, disse.

Sem família para se apoiar, o casal começou lentamente a fazer amigos. No entanto, nem sempre foi fácil, pois enfrentaram muita discriminação e preconceito daqueles que não aceitavam uma mulher branca e um homem negro juntos.

“Eu costumava dizer aos novos amigos: “Olha, eu tenho que te dizer isto antes de convidar-te para minha casa – o meu marido é negro”, recorda Mary.

“O meu pai morreu quando eu tinha 30 anos e, embora já tivessemos reconciliado, ele nunca aprovou a minha relação com o Jake”, revelou ela.

Alguns anos atrás, Mary e Jake comemoraram o seu 70º aniversário de casamento. “Sinto-me tão afortunado por ter conhecido e casado com a Mary, mas entristece-me não podermos ser aceites pela sociedade. Hoje digo aos jovens negros que não fazem ideia de como era antes. Quando cheguei ao Reino Unido, sofri abusos todos os dias. Uma vez eu estava num autocarro e um homem esfregou as mãos no meu pescoço e disse que queria ver se a sujeira saía. E naquela altura não podia trabalhar num escritório, porque um homem negro num escritório com todas as mulheres brancas não era considerado seguro para elas”, disse Jake.

“Cozinhar no dia-a-dia é o meu trabalho; eu sempre fiz isso. Nós, homens, pensamos que estamos sempre certo, mas não é assim. A minha esposa e eu estamos há mais de 70 anos juntos e ainda estamos a trabalhar nisso. Infelizmente, a Mary tem uma leve forma de Alzheimer a chegar e os médicos estão a dar o seu melhor, mas ainda não há uma cura. Mas vamos perseverando. Atualmente ela tem 89 anos, e eu tenho 93”, concluiu Jake.

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